sábado, 8 de novembro de 2008

Arthur Cosmos por Arthur Cosmos

Legalmente não possui registro de nascimento em cartório, impressão digital fichada no DOPS, cartão de crédito com bônus de milhagem aérea, tampouco caderneta na quitanda do bairro ou pendura de fiado no boteco da esquina. Não faz parte de nenhum programa de distribuição de renda do Governo Federal, nem recebe cestas básicas de alguma ONG que trabalha com assistencialismo com pessoas em situação de vulnerabilidade social. Arthur Cosmos simplesmente não existe.

Dizem por aí que talvez seja um alienígena pousado na Terra e perdido no espaço, quem sabe uma experiência bio-genética de fusão molecular, talvez um doido esquecido no sanatório após o uso exaustivo de taxas de juros bancárias, quem sabe um bebum largado na sarjeta depois da separação com a exposa, talvez um velhinho abandonado no asilo no dia seguinte à assinatura de seu milionário testamento ou por fim, mais ainda sem fim, um ex-agente secreto da ex-KGB trabalhando para a AL QAEDA.

Para alguns, talvez seja um super-herói recém criado por um grupo de dissidentes da Marvel, Disney, DreamWorks, Pixar ou WarnerBros, enquanto para outros, uma simples reengenharia visual de um personagem decadente e esquecido que precisa ser relançado no mercado editorial. Quem sabe - para quem ainda acredita em Papai Noel, Coelho da Páscoa e Anão de Jardim -, Arthur Cosmos seja uma lenda urbana, um simples dito pelo não dito popular. Deu para entender?

Literatura Bilateral

Duas cabeças, quatro mãos, dois computadores, um link de comunicação - nem sempre funcionando - e algumas dívidas para pagar. Argumentos imprescindíveis para duas entidades unirem forças criativas e viajarem além da imaginação. Já que não dá mesmo para pagar as dívidas, o negócio é alienar. Escrever ainda é de graça, principalmente para quem pretende viver disso: de graça...

Literatura Bilateral é isso. Dois alucinados a trocar emails - mas sem convites pornográficos - com uma finalidade comum: escrever um livro compartilhado, onde um escreve um capítulo e manda para o outro, a fim de que este continue com outro capítulo e depois retorne para o mesmo que lhe mandou, no intuito de que esse faça a mesma coisa, num ciclo vicioso, até que um dos dois diz "chega", "parei", acabou, "não aguento mais", cansei! Eis que surge então uma obra literária digital. O verdadeiro ebook e xpto!

Opção por Ebooks

Não é fácil publicar um livro neste país. Ganhar dinheiro com ele é algo ainda mais difícil. As editoras simplesmente não apostam em autores desconhecidos e quando o fazem, restringem-se ao famoso contrato Caracu. É claro que entendemos a necessidade do ganho de capital para a movimentação da economia e reconhecemos também que existem exceções a regra. Mas são raras. Sabemos dos inúmeros filantropos culturais do mundo editorial despojados de vínculos materiais e financeiros. Então, se alguém conhecer algum, por favor, nos apresente.

As máquinas de Xerox já haviam dado a bofetada inicial nos autores e agora os livros digitais parecem ter vindo para dar a porrada que faltava nas editoras, complicando ainda mais o ingresso de mentes brilhantes no mercado literário. Sabemos quem somos e ao que viemos, mas competer com fotocópia e bits não é nada fácil.

Bem! Se não é fácil publicar um livro, se vão copiá-lo fazendo ou não sucesso editorial, se vão digitalizá-lo e depois disponibilizá-lo na internet caso ele seja ícone de uma era - e será -, se não vamos ganhar dinheiro para comprar o leitinho das crianças e, ainda pior, se Paulo Coelho está a fazer isso com os próprios livros depois de ganhar milhões por que não podemos doar à humanidade nossas criações literárias e adquirir notoriedade através da nossa irrefutável responsabilidade social e despojamento material?

Artur de Carvalho por Paulo Cosmo

Conheço essa figura rara desde 1984 e inacreditavelmente ainda gosto dele. Minha amiga Telma - desde 1985 esposa do rapaz - decidiu mostrar seus vastos conhecimentos de informática para o então recém namorado, levando-o numa visita ao laboratório de informática da Puccamp no momento que eu estava a fazer um trabalho em equipe para incluir no nome dela.

Olhei para aquele cabeludo, barbudo, esculachado e pensei onde a Telma estava se metendo daquela vez. Bem! Ela se meteu com um cara maravilhoso! Doido, mas fantástico. Talvez por isso seja doido. Muito inteligente, sensível, carinhoso e até onde conheço, tranqüilo e de bem com a vida, apesar das crises existenciais inerentes a toda pessoa que pensa além do próprio tempo e não se conforma em ver ignorantes vencendo na vida, enquanto ele mesmo precisa ralar como alucinado para ver seu trabalho reconhecido. Na realidade ralar para fazer o trabalho ser visto, pois o reconhecimento é uma reação que acontece instantaneamente.

Já vivemos boas situações e tenho nele um amigo que ultrapassa o tempo e a distância, tanto que nos metemos nessa impreitada, mesmo sem nos vermos fisicamente há 10 anos e estarmos 4.000 km um do outro. Quando temos a oportunidade de nos falar - coisa rara - dizemos assim um para o outro: estava precisando falar com alguém culto que me entenda. Não que estejamos cercados de pessoas incultas, mas parece que possuímos algo especial, onde até as histórias inventadas e mentiras repetidas fazem parte de um pacto de união. Sei lá!

Falar que ele é jornalista, escritor, publicitário, desenhista e pensador chega a ser uma redundância digital. A internet está repleta de depoimentos semelhantes sobre esse vovô fresco, um paulista de Campinas, filho da Dona Laís e Seu João, egresso do Colégio Notre Dame, freqüentador de alguns cursos na Puccamp, mas que acabou parando numa padaria em Votuporanga, cidade que o acolheu como "o cara", pois ele é o Artur. Não existe quem não o perceba, até porque ele adora se fazer perceptível.

Ele é a única pessoa que eu conheço que adota um viralata feio, baixinho, barrigudo, com perna manca cadenciada, soluço intermitente, sarna e os cambau. Isso seria até normal, se não fosse o detalhe dele pegar uma corda velha, amarrar no pescoço desse alienígena canino e sair de Comissão de Frente durante um desfile de Escola de Samba de Votuporanga. Ah! O Artur detesta Carnaval.

Paulo Cosmo por Artur de Carvalho

Aguardando a boa vontade de nosso outro eu...